União Europeia a Resvalar
Discordo do António Figueira, concordo com o Luís Menezes Leitão:
1) Sair do Euro (a Grécia) quase que implica sair da União Europeia: começa com a imposição do controlo de capitais e seguem-se outras restrições: na prática, as componentes mais básicas da União Europeia deixarão de ser aplicadas. E, como afirma e bem Luís Menezes Leitão, a saída de um país da União é o princípio do desmoronar da mesma.
2) A moeda única, por estranho que possa parecer, é um desígnio europeu: basta lembrar que todos os países das últimas adesões (os dez que entraram em 2004 e os dois do último alargamento) NÃO têm opção de ficar de fora do euro. Foram estes países que assim quiseram auto-limitar-se ou terá sido isto uma exigência dos país que já faziam parte da União? E, de entre estes, quais terão sido mais veementes nessa imposição?
3) "A aceitação da moeda única pela Alemanha" e "A Alemanha aceitou o euro": estas expressões, se compreendi bem, parecem sugerir que o euro terá sido um terrível sapo engolido pela Alemanha. É um erro de análise gigantesco esse de que a Alemanha engoliu um sapo e de que fez um grande favor ao resto da Europa: a Alemanha é a maior beneficiária da moeda única. E está melhor com o euro do que estaria com o seu marco robusto mas rodeado de moedas fracas prontas a desvalorizarem-se por tudo e por nada.
Se a aceitação do euro na Alemanha não foi coisa popular na altura e se hoje os alemães pensam que o euro não lhes trouxe benefícios líquidos (se é que, de facto, a maioria deles pensa assim) - é porque também o eleitorado alemão se engana e vota mal ("lembram-se" de Março de 1933?) e o seu conhecimento económico não é infalível. A questão principal não é a Alemanha ter abandonado a sua moeda forte. A questão relevante é a Alemanha ter deixado de ser prejudicada por várias moedas prontas a serem desvalorizadas a qualquer instante (as dos seus parceiros económicos antes de aderiram ao euro).
4) Tema para paper: quantificar os ganhos acumulados decorrentes do euro (e, de caminho, da criação do Sistema Monetário Europeu) para a Alemanha e compará-los com as perdas de uma eventual default grego e hair cuts das dívidas irlandesa e portuguesa.