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"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

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Legislativas (3)

  

 

DEBATE JERÓNIMO DE SOUSA-PEDRO PASSOS COELHO

 

Foi um debate correcto e civilizado, quase cordial. Os portugueses, sobretudo nesta fase, apreciam os políticos que não transformam um estúdio de televisão num ringue de boxe. Neste aspecto, o secretário-geral do PCP e o presidente do PSD marcaram pontos esta noite na TVI. E Pedro Passos Coelho até surpreendeu ao concordar quatro vezes com o seu antagonista: sobre a dureza das medidas que deverão ser aplicadas, a necessidade de redução dos custos das empresas, as críticas à política "irresponsável" do Governo de José Sócrates e a confiança no veredicto do povo português a 5 de Junho. Pareceu mais preparado neste frente-a-frente, sobretudo nas questões macro-económicas, e refutou com eficácia a acusação de Jerónimo de Sousa sobre as responsabilidades partilhadas entre sociais-democratas e socialistas em matéria de privatizações ao exibir um gráfico colorido que apontava o PS como destacado campeão neste campeonato.

Passos Coelho teve sorte de principiante. Calhou-lhe, neste seu debate inaugural como dirigente político, talvez o adversário mais adequado. PCP e PSD não partilham eleitorado, o que ajudou a amenizar o tom da contenda. O panorama será bem diferente em futuros debates, designadamente com José Sócrates e Paulo Portas. Ainda assim, faltou algum conteúdo político à prestação do líder social-democrata. Passos transmite por vezes a sensação de estar a candidatar-se a ministro da Economia, não ao cargo de primeiro-ministro. Falta-lhe sobretudo conferir um suplemento de esperança ao seu discurso: não basta acertar no diagnóstico, como a sua antecessora, Manuela Ferreira Leite, aprendeu amargamente na campanha de 2009.

A economia constitui precisamente o calcanhar de Aquiles de Jerónimo, que parece sempre um pouco desconfortável neste tema. O secretário-geral dos comunistas manteve-se fiel aos dogmas do seu partido: é contra toda e qualquer privatização das empresas públicas, diaboliza o capital estrangeiro e alude à "renegociação da dívida" sem fornecer soluções credíveis. O ponto mais acutilante da sua mensagem centra-se nos temas sociais: é-lhe fácil colocar-se do ponto de vista dos mais desfavorecidos - um aspecto tanto mais relevante quanto o nível de vida em Portugal tem vindo nos últimos anos a divergir da média europeia. A boa utilização que faz da linguagem popular é outro aspecto interessante do seu discurso. Um exemplo: "Nas críticas ao Governo PS, só se perdem as que caem no chão."

Algumas questões importantes ficaram sem resposta concludente. O secretário-geral comunista rcusou emitir preferência entre um governo socialista e uma coligação PSD/CDS. E Passos foi incapaz de reagir convictamente quando a moderadora, Judite Sousa, o questionou sobre os motivos da sua aparente incapacidade para fazer descolar os sociais-democratas nas sondagens. "Não lhe sei dizer. Não sou analista de sondagens. Não vou deter-me nessa matéria", limitou-se a dizer.

Resposta naturalmente insuficiente, dada a importância da questão. Resta-lhe, como atenuante, ser caloiro em debates políticos. Esperemos para ver como se portará no próximo. 

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FRASES

Jerónimo - «O PSD é mais troikista do que a troika

Passos - «Vamos ter nos próximos anos um programa bastante duro.»

Jerónimo - «O PSD quer transformar aquilo que é fundamental para o ser humano [água] num negócio.»

Passos - «Estamos desesperados. Não temos dinheiro [em Portugal] para pagar salários.»

Jerónimo - «Há dinheiro. Onde é que ele está? É preciso ir buscá-lo.»

Passos - «Quando um país tem que reestruturar a dívida, paga um preço elevado por isso.»

Jerónimo - «O PSD esteve sempre com esta política [do PS]. Sempre invocando o interesse nacional. O interesse nacional tem as costas largas.»

Passos - «O Estado deve meter-se cada vez menos nos negócios para ganhar força na regulação.»

Jerónimo - «[Passar do governo PS para um governo PSD] é como sair da frigideira para cair no lume.»

Passos  - «As pessoas, quando forem votar, têm que decidir se querem mudar ou não.»

 

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ADENDA

Por curiosidade, recordo o que escrevi sobre o debate Manuela Ferreira Leite-Jerónimo de Sousa da campanha legislativa de 2009.

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