O que se esconde atrás de um blogger?
Cada blogger é um caso: todos acharão que têm algo a dizer, e que vale a pena ser ouvido, mas o que dizem, porque dizem, como dizem, é sempre diferente. Nenhum padecerá de excesso de timidez, ou estaria calado, nem de nenhuma patológica falta de confiança nas capacidades próprias, também parece certo; mas há quem escreva sob pseudónimo e quem assine com o nome que tem, quem apague tudo o que escreve e quem acumule arquivos a benefício da eternidade, quem escreva sozinho e quem o faça sempre acompanhado, como há quem escreva poesia, quem conte histórias, quem dê notícias ou quem só faça comentário: é toda a graça da blogosfera. Eu escrevo em dois blogues, ambos colectivos: aqui, encontro um monte de gente que escreve em jornais (e não só), e como que prolonga por esta via as reflexões que lhe vai ocorrendo enquanto jornalista, e não cabem nos jornais em que escreve; no 5dias, o meu querido amigo Nuno Ramos de Almeida, sem outro benefício que não seja o de empobrecer mais depressa, corre atrás do nobre sonho de conciliar as inconciliáveis tradições da esquerda portuguesa, o que só quando tiver trezentos anos perceberá quão quimérico é (mas nessa altura, hélas!, eu já não estarei cá para ver: com tudo o que como, bebo e fumo, tenho a certeza de que não passarei dos duzentos). Só há uma raça de blogger que me escapa: a que tem nome, mas é anónima; tem tantos arquivos, e sabe tanto sobre tanta gente, que, mais do que ter um blogue, parece uma central da blogosfera; que, mais do que causas, tem obsessões, como só as tem quem tem de responder a patrões; que, enquanto o resto da malta faz isto ao fim do dia, ou ao fim da semana, quando há tempo e pachorra, tem sempre o dedo pronto, o post a sair, o link preparado, a ficha encontrada (e sempre inventivamente disfarçada por um post sobre um livro, ou um disco, ou uma pintura, viva a imaginação). Este tipo de blogger é muito forte: tão forte, tão forte, que eu até acho que não é um blogger: porque blogger nenhum se entretém a pôr na rede as fotos de pessoas que vão a manifestações, ou os CV’s, supostamente secretos, das pessoas de quem não gosta: este tipo de blogger - que eu aconselho quem ainda não conheça a conhecer, nas suas múltiplas expressões - é a miséria moral da blogosfera, e é o melhor argumento que existe para correr depressa com quem o inventou.