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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

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"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

Convencionar um bloco de onde parece querer fugir o eleitorado de esquerda.

 

Nesta convenção do Bloco de Esquerda, notou-se nervosismo no ar. Percebeu-se que o esvaziar ideológico, ocorrido desde a transformação dos antigos partidos em associações políticas, começa agora a notar-se ainda mais e a reflectir-se numa perca significativa de eleitorado nas franjas mais jovens da população - especialmente desde que o PS se apoderou de algumas das suas causas ditas fracturantes.

 

O que falta agora ao Bloco? A legalização das drogas leves e da prostituição? Também elas já defendidas há bastantes anos pela Juventude Socialista e por uma grande parte do PS? É desta forma que o BE pretende segurar a votação da "geração à rasca", verdadeiramente interessada é em arranjar um emprego e sair de casa dos pais?

 

Paralelamente, é preciso notar que os tempos são de crise e de agitação social. Neste cenário, a classe média de esquerda vê-se forçada ao voto útil no Partido Socialista, como forma  de manter viva a utopia de um estado social em que mais de um terço da população pode viver às custas do estado. Convém dizer que esta classe média de esquerda trabalha na sua esmagadora maioria para o próprio estado, com regalias que dificilmente conseguiria a trabalhar para o sector privado. 

 

O povo de esquerda é diferente e provavelmente não irá votar PS. Estes homens e mulheres foram os que mais sofreram com os seis anos de governação de José Sócrates. Ao mesmo tempo, continuam sem confiar na direita e têm muitas vezes os sindicatos como referência do seu discurso político. Em altura de crise e sacrifício, é este eleitorado que preconiza a subida do PCP nas sondagens. Ao mesmo tempo, é também este eleitorado que se reconhece no discurso de Jerónimo de Sousa, mas acima de tudo no seu percurso de vida e nas suas origens sociais, bastante diferentes da esmagadora maioria dos dirigentes do BE.

 

Ao fim de 10 anos, o BE começou a perceber que não se conseguiu afirmar como um partido sério. Ao fim de 10 anos, as sondagens demonstram que os portugueses percebem que a política não está para brincadeiras. Na política é preciso construir ideias e traçar caminhos, o BE nunca o conseguiu fazer verdadeiramente.

 

Há dois anos perguntei a Francisco Louçã numa blogconf: "afinal o Bloco quer ser um partido de protesto ou de governo?". O coordenador do BE respondeu-me: "só um partido de protesto merece ser governo". O resultado eleitoral do BE irá explicar a pertinência da minha questão. Dois anos depois começo a ter razão.

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