Algures na década de 60 existia na televisão brasileira um programa musical que consistia em disputar quem, a partir de uma palavra, era capaz de cantar um excerto de uma música consagrada.

Os convidados eram geralmente músicos em início de carreira ou, em alguns casos, para animar a festa, gente já lançada na fama.

O programa tinha um grande sucesso porque testava não só os conhecimentos musicais mas também os reflexos e a agilidade física.

Fazendo indispensável suspense, o apresentador disparava uma palavra (“a palavra é....”) e quem apertasse primeiro o botão à sua frente ia ao microfone cantar a música.

Um dos campeões era Caetano Veloso que, à época, ainda estava bem longe da fama. Outro era Chico Buarque – insuperável, segundo Caetano, na arte de inventar músicas na hora. “Ele é bom repentista e inventava de uma maneira muito convincente: dizia o nome do compositor, a data, e era difícil não acreditar que a música não existia”.

Um dos piores do programa era reconhecidamente Vinicius de Moraes que, apesar da sua imensa cultura musical, jamais chegava a tempo ao botão. Até que um dia conseguiu. A palavra era “garota” e Vinicius, radiante, começou a cantar a sua “Garota de Ipanema”, para ir descobrindo, pouco a pouco, com uma decepção de menino, que a canção não tem “garota” na letra.