Isto está muito perigoso.
Os resultados das eleições finlandesas são um verdadeiro balde de água fria para o projecto europeu. Na verdade, os nossos queridos amigos finlandeses votaram esmagadoramente num partido xenófobo, que fez do ataque a Portugal o seu programa principal. E os Verdadeiros Finlandeses subiram em consequência de 5 lugares para 39, quase multiplicando por 8 o seu grupo parlamentar. É verdade que ficaram em terceiro lugar, mas perante a proximidade dos quatro maiores partidos é manifesto que se tornaram decisivos na política finlandesa.
Na França, Marine Le Pen, apresentando um discurso xenófobo, vai igualmente de vento em popa, sendo que todas as sondagens a dão na segunda volta das presidenciais. Por esse motivo, o Governo francês parece desnorteado, primeiro decidindo, em clara violação dos Tratados Europeus, encerrar a circulação ferroviária com a Itália, para depois a retomar logo que surge uma manifestação de protesto.
E perante isto as instituições europeias não se mostram capazes de defender os Tratados e muito menos de assegurar a coesão entre os cidadãos europeus. Como bem salienta abaixo o António Figueira, é absolutamente espantoso que a proposta do FMI seja melhor para Portugal do que a proposta da Comissão. A única conclusão a retirar disto é que as instituições comunitárias andam a reboque de alguns Estados-Membros, deixando assim de defender o interesse geral da União.
Não admira por isso que em Portugal se multipliquem declarações a apelar à "greve à democracia" e ao "retorno ao sonho do PREC". São declarações absolutamente irresponsáveis, mas podem causar enormes danos à credibilidade do sistema político. Os eleitores podem de facto começar a perguntar-se de que servem as eleições em Portugal se o facto de terem ou não ajuda externa está é dependente do voto dos eleitores finlandeses. Ou as instituições, tanto europeias como portuguesas, começam efectivamente a olhar para esta situação ou arriscamo-nos a entrar num terreno muito perigoso.