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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

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"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

Em memória de Campos Lima e do anarco-sindicalismo místico

 

Anteontem foi dia de manife e Carvalho da Silva. Ontem foi dia de Alegre ser apoiado por ser progressista. Hoje, volta a ser dia de Mourinho, de camionistas e de uma notícia engraçada: "radicais fizeram emboscada à polícia", isto é, "grupos anarquistas, libertários e anarco-sindicalistas"..


Certas palavras que exprimem conceitos são nomes que, na verdade, não correspondem à coisa nomeada. "Progressista" era nome de um dos partidos do rotativismo monárquico, extinto em 1910. "Radical" é o qualificativo assumido pelo actual governo britânico, de maioria conservadora...


"Anarquista", então, serve para tudo. Para que especialistas securitários falem em guerrilha urbana. Para que o centralismo democrático da Inter colabore directamente com a polícia que já teve como comandante Ferreira do Amaral. E, sobretudo, para que se insulte a memória da CGT e do jornal diário que emitiu "A Batalha"...parece um discurso racha-sindicalista!


Por isso, fui reler em cumplicidade de coração os escritos, sonhos e memórias de Alexandre Vieira e Campos Lima, que retirei da estante, para não poder ser alheio à energia que brota do obreirismo e tem que que respeitar o esforço e a autenticidade da manifestação de sábado. O tipógrafo em causa era anarquista e jornalista de "A Batalha".


"A Batalha" era o jornal diário da central anarco-sindicalista da nossa I República. Pela respectiva redacção também começaram a escrever tipos como Ferreira de Castro (sim, o autor de "A Selva), ou o historiador santomense Mário Domingues. Anarquistas destes, venham eles!


Anarquista começou por ser esse belo poeta Afonso Lopes Vieira, sim o autor do poema do "A 13 de Maio na Cova de Iria". Era do anarquismo místico que bebeu em Tolstoi, aquela mesma fonte a que nunca deixou de ser fiel um tal de Mahatma Ghandi... a polícia britânica chegou a utilizar a mesma adjectivação para nele malhar...


Anarquista se continuou a qualificar Sampaio Bruno, como quase todo o socialismo utópico, na senda de Proudhon, sem o qual não havia Europa, federalismo, sindicalismo, socialismo democrático, comunitarismo e outras coisas mais, incluindo Salvador Dali, "anarquista, mas monárquico"...

 

Uma coisa é a boa organização da última manife, com elogios devidos a PSP e a Inter, até na repressão de quem quis estragar esse acto cívico pelo violentismo. Outra é arranjar adjectivos insultuosos para as mais belas correntes de pensamento da Europa e do Mundo. Eu que não rejeito essas raízes, protesto!


Democracia não é paz dos cemitérios, é institucionalização dos conflitos, é assumirmos convergências e divergências, em sucessivas emergências, sem nunca haver síntese do fim da história, mas novas convergências e novas divergências, em estádios de complexidade crescente, onde se cresce para cima e para dentro.


Foi assim que olhei para a última manife. Para ver, ouvir e ler os sinais do tempo. Estamos enredados em fragmentos e nenhum dos fragmentos do país que se manifesta tem suficiente força para se assumir como dominante. Logo, quanto mais fragmentação, mais necessidade temos de negociação, para que se estabeleça um qualquer consenso mobilizador.


A Inter demonstrou que é bem mais do que a percentagem do PCP em eleições e sondagens. Em lugar de continuar a ser, como nos tempos da Guerra Fria, uma correia de transmissão do Partido, talvez tenha transformado o PCP no seu braço político no parlamento. Isto é, voltou às duplas origens.


CGTP-Intersindical tem a ver com a fundação do PCP em 1921. Na dissidência da central anarco-sindicalista, dita federação maximalista. Na criação clandestinamente concedida pelo marcelismo de uma semente coordenadora sindicalista, onde a maioria dos activistas até vinha da JOC (Juventude Operária Católica)...


Tenho pena que a central alternativa, nascida contra a unicidade, a UGT prefira ser ministra do trabalho, contra a contestação e pela concertação. Precisa mesmo de conserto...


A Inter pode não representar a esperança da maioria dos trabalhadores por conta de outrém, mas não era bom para Portugal que esta força viva não fosse escutada e contratualizada para bem de Portugal. Precisamos, urgentemente, de baralhar e dar de novo ("new deal"), de um contrato refundador da democracia, ainda nos quadros deste regime!


*Para os devidos efeitos de ficha policial, confesso o meu passado curricular sindicalista: activista de comissão de trabalhadores, sujeito a despacho proibitivo de declarações públicas pelo senhor ministro, por acaso chamado António Barreto, então do PS; candidato à direcção do primeiro sindicato da função pública que só foi vencido pelo PCP porque o PS não conseguiu livrar-se dos trotskistas que o enredavam, apesar dos esforços unitários de António Guterres; fundador de um sindicato da UGT, ainda em actividade. A foto é de J. E. Campos Lima, saneado, por persiganga política, da Faculdade de Direito de Lisboa, mas autor de uma bela tese que editou em 1914: "O Estado e a Evolução do Direito". Confesso também que já fiz várias greves, mesmo as declaradas pela Inter. Numa das últimas, já catedrático, fui o único da minha escola e até tive de apresentar requerimento formal...

Alegre bicéfalo

 

O apoio - aguardado desde Janeiro - do PS chegou hoje e, com ele, Alegre perdeu a áurea (a gloríola) de esquerda e as bandeiras. A somar a isso tem o apoio de dois partidos que no essencial estão de costas voltadas. Teremos um Alegre que às segundas, quartas e sextas defende o aumento de impostos, o PEC e as privatizações e às terças, quintas e sábados defende os desempregados, critica os prémios dos gestores e a nacionalização do BPN. Domingo será dia do Senhor.

Escolha de Alegre inspirada na antiga direita conservadora americana?

 

Tenho para mim que José Sócrates engoliu o sapo Manuel Alegre porque, ainda que sendo um homem moderno, anda hoje visivelmente inspirado na lógica prévia à doutrina estabelecida por uma das mais conhecidas representantes diplomáticas da direita conservadora....americana. Veja-se, a propósito, este trecho do First Principles, uma das várias ciber-bíblias da ala direita do Partido Republicano, sobre os refinamentos que Ms Kirkpartick introduziu no método de escolha dos candidatos ao apoio americano. :

 

Totalitarianism returned to the forefront of political debate in the late 1970s with Jeane Kirkpatrick’s seminal Commentary article (and later book) titled Dictatorships and Double Standards (1982). The liberal moralist foreign policy of the Carter administration sought to pressure right-wing dictatorships allied with America on human rights grounds....Kirkpatrick argued that America should properly follow precisely the opposite policy—and not merely for the old reason given with respect to the right-wing dictators: “He may be a son of a bitch, but at least he’s our son of a bitch.” Rather, Kirkpatrick argued that any policy must be based on a clear theoretical distinction between totalitarian and traditional authoritarian regimes.  Traditional authoritarians were nonideo-logical and did not presume to control all spheres of social life: families, churches, schools, and corporations were largely left to their own devices in such regimes, even if political parties and the press were subject to sometimes violent episodes of repression. Totalitarian regimes, on the other hand, operated from an ideological imperative to bring all social spheres under strict party control.

 

Na mouche!

 

Devem estar reformados ou desempregados, tanta é a rude mas prolixa prosa com que inundam as caixas de comentários de jornais e blogues. Mas, o facto, é que são poucos. Barulhentos e por vezes mal-criados, mas poucos. Por muito que insultem, estruchem ou pelo enorme respeito que pensam lhes deva ser atrubuído, o facto é que meia dúzia é sempre meia-dúzia. Na mouche, o meu vizinho Francisco Mendes da Silva.

 

Vá lá, e aproveitem esta ocasião, para mostrar que a direita católica aggiornata e monotemática também é civilizada como a direita católica pluritemática ou como a igreja, e que não são apenas crentes transformados em meros enteados distantes do velho Torquemada...

Chico Buarque & o chico esperto

Cê conhece esta história? A mim ela me lembra uma outra, que eu li quando era moleque, da Turma da Mônica, você lembra? Nessa história, o Cascão encontra na rua um grande das novelas ou do futebol (já não sei não) e resolve lhe pedir um autógrafo, mas como o seu português era fraco, acaba por meter os pés pelas mãos: “Pô, não-sei-quantinhos, você é meu fã!”. O famoso corrige-o: “Não: você é que é meu fã, eu sou seu ídolo”. Cascão: “Jura???”. Enfim, há uma inocência no Cascão que falta a outros, mas…

 

(Roubado de um comentário a este post, da Morgada de V.)